sexta-feira, 3 de março de 2017

Opinião sobre "A Herdeira" (Saga De Courmont #2) - Elizabeth Adler

A Herdeira
(Saga De Courmont #2)
(Artigo de Opinião)



Autora: Elizabeth Adler
Título Original: Peach (1986)
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 978-989-741-538-8
Nº de páginas: 496
Editora: Quinta Essência


Sinopse


    Bonita, inteligente, independente, ela tinha tudo até conhecer um homem que não seguia as suas regras

    A jovem Peach de Courmont está de visita à avó Leonie, na Riviera francesa, quando os nazis invadem a França e requisitam o elegante hotel da família.

     A sua meia-irmã Lais, amante de um oficial alemão, recolhe secretamente informações para a Resistência, e Peach segue o seu exemplo, levando mensagens vitais na sua mala.

     Nos Estados Unidos, Noel Maddox é abandonado num orfanato e tem de lutar pelas coisas básicas que Peach toma como certas. Os seus caminhos cruzam-se várias vezes sem grande repercussão, até que, anos mais tarde, Noel é um bem-sucedido executivo da indústria automobilística e Peach, que deixou um casamento sem amor, dirige as fábricas de automóveis De Courmont.


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Quinta Essência em troca de uma opinião sincera

Opinião

      Começo por agradecer à Quinta Essência pelo gentil envio do livro.
 
     Apesar de este não ser o meu primeiro contacto com Elizabeth Adler, uma vez que já tinha lido e gostado bastante de "Intriga em Monte Carlo", devo dizer que "A Herdeira" foi uma surpresa muito agradável!

    "A Herdeira" começa com o abandono de um recém-nascido às portas de um orfanato, no Iowa, em 1932. É este triste acontecimento que definirá a vida de Noel Maddox, não só por determinar o decorrer da sua infância num ambiente opressivo e deprimente - fator que se repercutirá numa personalidade insegura no campo afetivo e numa ambição desmedida no seio laboral -, mas também ao permitir o desencadeamento de uma paixão platónica por automóveis que, mais tarde, o conduzirá por um percurso intenso e trabalhoso até ao topo.

    Dois anos após a entrega de Noel ao Orfanato Maddox, nasce Peach de Courmont, o fruto do amor entre Gérard de Courmont e Amélie d'Aureville. Uma jovem de fibra, Peach é uma força da natureza. Apesar de crescer num ambiente rodeado de luxo e de amor, mantém-se fiel aos seus princípios e às suas paixões, tendo inclusive arriscado a sua vida ao colaborar com a Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Desde criança que demonstra que a sua perseverança e bravura podem vencer tudo. E é esse afinco que, na infância, a faz ultrapassar um grave problema de saúde; que, no final da adolescência, a leva a conhecer o homem que há tanto deseja; e que, já na vida adulta, a impele a dirigir as fábricas de automóveis De Courmont, que estavam numa situação financeira deveras complicada.

    Os caminhos de Noel e Peach cruzam-se várias vezes sem que, no entanto, o choque cause grande impacto. Porém, quando as fábricas estão à beira da falência e Peach está desesperada, Noel vê a oportunidade de obter a rapariga dos seus sonhos e de administrar a De Courmont. Será esta a possibilidade de os dois conseguirem o seu final feliz, ou irão o passado e as inseguranças condenar uma possível relação?

    Este não é o tipo de livro que se foca apenas no casal principal: prima exatamente pelo contrário, ao oferecer uma visão ampla do núcleo de personagens da trama, apresentando episódios da vida pessoal das gerações que compõe esta família - Leónie e Jim; Amélie e Gérard; e Lais, Leonore e Peach - bem como da de Noel, desde quando este era ainda um bebé de dias, passando pela difícil adaptação ao lar, pelo deambulismo pelas ruas de Detroit, e pelo trabalho árduo, espírito de sacrifício e ideal inovador que o conduziu ao topo.

    Noel é a concretização do ideal de que, com esforço e sacrifício, tudo se consegue. Apesar de todas as provações, subiu na vida a custo próprio e conseguiu triunfar no meio que tanto admirava. Irritei-me ligeiramente com algumas questionáveis escolhas de Noel, mas a verdade é que, conhecendo o seu passado, compreendo que a infinita ambição que lhe toda o bom senso é o reflexo de sentir solitário, inseguro e preterido.

    Rendi-me à escrita de Elizabeth Adler: é agradável e cativante, o que se traduz no facto de, apesar do livro ter quase 500 páginas, se ler muitíssimo bem! Os capítulos são curtos, o que também contribui para a fluidez da leitura. A história é narrada na terceira pessoa, mas temos acesso aos pensamentos das personagens, o que nos permite conhecê-las e compreendê-las melhor. A narrativa estende-se por um período temporal de cerca de quarenta anos e entrelaça-se com os climas político e social que se vivem na época. Encontramos marcos como a agitação e a fervilhante vida da Paris dos anos 30 ou a sombra da Segunda Guerra Mundial e a força e coragem da Resistência Francesa. Adorei o facto de a autora ter distribuído a história por vários planos, e por ter conseguido encaixar as dimensões temporal, espacial e social de forma tão natural e aprazível.

     Um dos grandes pontos fortes deste livro é a diversidade e a construção das personagens, que têm um passado, um presente e um futuro. São complexas, têm identidades próprias e profundidade emocional, e o facto de a autora se debruçar na medida certa sobre todas elas reforça exatamente essas características fantásticas. Ao ler "A Herdeira", senti que as personagens poderiam perfeitamente ser pessoas reais: apaixonam-se, cometem erros, sofrem partidas da vida e lutam pelo seu final feliz.Ao contrário de outros livros, não senti aquela ânsia para chegar rapidamente aos capítulos dos protagonistas - não por falta de curiosidade, mas porque as outras personagens também viviam histórias apaixonantes, intensas e interessantes que mereciam ser lidas.

     Percebi, quase a meio da leitura, que este livro era a continuação de um outro sobre Leónie, "Sombras de Paixão", e por momentos temi que tal pudesse prejudicar a minha noção dos acontecimentos, devido a lacunas preenchidas no primeiro volume. Felizmente, este receio revelou-se infundado, uma vez que a autora contextualiza tudo na perfeição. No entanto, fiquei curiosa relativamente ao primeiro volume, pois este esclarece importantes aspetos sobre o passado da matriarca da família, apesar de estes não terem significativa relevância na história de "A Herdeira".

      Com uma capa linda e apelativa, Adler traz-nos um livro que encerra muitas histórias de amores e desamores, num cenário que nos transporta para início e meados do século XX. "A Herdeira" leva-nos numa viagem a um passado não tão distante, mas com estilos de vida significativamente diferentes. Esta é a história de muitas vidas que se cruzam e se separam, que marcam e são marcadas, e que dão origem a uma trama bela, original e encantadora. Gostei mesmo muito!

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Dive_Ed Sheeran

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