quinta-feira, 13 de abril de 2017

Opinião sobre "Sinto a Tua Falta" - Kate Eberlen

Sinto a Tua Falta
(Artigo de Opinião)


Autora: Kate Eberlen
Título Original: Miss You (2016)
Tradução: Inês Castro
ISBN: 978-989-657-875-6
Nº de páginas: 440
Editora: Editorial Planeta


Sinopse

Tess e Gus foram feitos um para o outro.

Só que ainda não se encontraram.


E pode ser que nunca se encontrem...

     Tess sonha em ir para a universidade.

     Gus mal pode esperar para fugir do controlo da família e descobrir o que de facto deseja ser.

    Por um dia, nas férias, os caminhos destes jovens de dezoito anos cruzam-se antes de voltarem a casa e verificarem que a vida nem sempre decorre como planeado.

   Nos dezasseis anos seguintes, com rumos de vida bastante diferentes, cada um descobrirá os prazeres da juventude, enfrentará problemas familiares e encarará as dificuldades da vida adulta.

   Separados pela distância e pelo destino, tudo leva a crer que será impossível que um dia se conheçam verdadeiramente...


Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Editorial Planeta em troca de uma opinião sincera


Opinião

       Começo por agradecer à Editorial Planeta pelo gentil envio do livro.

       "Sinto a Tua Falta" é o romance de estreia de Kate Eberlen, onde acompanhamos as aventuras e desventuras de duas pessoas, Tess e Gus, ao longo de dezasseis anos - desde os seus dezoito anos até aos trinta e quatro. E, apesar de ter iniciado a leitura com algumas expetativas - uma vez que o livro tem recebido ótimas críticas -, não me desiludi e gostei ainda mais da história do que esperava!

      Conhecemos Teresa "Tess" Costello quando esta está em Itália a fazer um interrail com a melhor amiga, dias antes de saber os resultados dos exames que lhe poderão permitir o acesso à universidade, quando a vida lhe sorri e as perspetivas para o futuro são as melhores.

       Angus "Gus" Macdonald está de férias com os pais, em Florença, alguns meses depois da morte do seu irmão mais velho, Ross, num acidente de esqui. Habituado a viver na sombra do irmão, Gus carrega ainda o sentimento de culpa devido ao desenrolar dos acontecimentos que culminaram com a morte deste.
      

    E os caminhos de Gus e de Tess cruzam-se, momentaneamente, numa pequena igreja italiana, para depois se separarem durante os dezasseis anos seguintes. De facto, este dois jovens na flor da idade seguem direções bastante diferentes, e confrontam-se, ao longo do tempo, com as adversidades que a vida lhes reserva. Devido a um problema de saúde familiar, Tess vê-se obrigada a desistir do seu sonho e a ter a seu cuidado a sua irmã mais nova, Hope. Já Gus, envereda por uma carreira que não o satisfaz, enquanto vai tentando compreender quem é e o que quer.

     Durante dezasseis anos, acompanhamos as vidas de Tess e Gus, e vamos vendo os problemas, as dúvidas, as indecisões e as más decisões, as frustrações e as desilusões, mas também as conquistas, os sucessos e as paixões destas duas personagens, à medida que vão crescendo e percebendo que nem tudo é como sonhamos e planeamos quando temos dezoito anos. E nestes dezasseis anos, constatamos também que os caminhos de Tess e Gus estiveram por diversas vezes tão próximos que só mesmo as partidas do destino impediram que se cruzassem.

     Gus e Tess são, na verdade, perfeitos um para o outro. Só precisam de se encontrar, mas separam-nos o resultado de uns minutos a mais ou de uns segundos a menos na conduta do quotidiano. É engraçado pensar em quantas vezes, ao longo da nossa vida, podemos estar lado a lado com as pessoas certas sem que sequer nos apercebamos. Terão Tess e Gus uma oportunidade para se conhecerem?

     A escrita de Kate Eberlen é verdadeiramente envolvente! A leitura flui e rapidamente damos por nós a torcer pelos protagonistas, ansiando pela sua felicidade, partilhando com eles os momentos de triunfo e também condenando as más opções. O facto de a história ser narrada na primeira pessoa, alternando entre os capítulos de Gus e Tess, faculta-nos uma melhor perceção do que origina as decisões que tomam, dos receios que toldam as atitudes, e da sempre presente ânsia de encontrarem alguém que os entenda e complete. Encontramos também fragmentos do seu passado que, de alguma forma, contribuíram para que se tornassem quem hoje são, bem como pertinentes reflexões sobre a vida.

    Gostei muito de ambos os protagonistas. Ambos têm anseios e receios e erram como qualquer ser humano, o que lhes dá uma aura bastante real, aproximando-os de pessoas normais com as quais convivemos. Admirei a faceta lutadora de Tess, que sacrifica os seus sonhos em prol da educação da irmã e que apenas raramente vê o seu esforço reconhecido. A forma como lida com as limitações resultantes de ter uma criança (e especial) a seu cargo, como tenta encarar com algum otimismo um futuro que não se assemelha promissor, especialmente quando comparado com aquele que, se pudesse, teria desenhado para si mesma, é tocante e até inspiradora. 

     Apesar disso, foram os capítulos de Gus que mais me cativaram, talvez por achar interessante deparar-me com um rapaz inseguro e algo perdido que é o produto de uma relação abusiva e do sentimento de culpa devido ao falecimento do irmão mais velho, e que tenta agarrar as oportunidades de se integrar e de ser aceite pelo que é. O facto de ser Gus a contar-nos a sua história e a explicar-nos a sua visão das coisas contribui para que, de algum modo, entendamos melhor algumas das suas escolhas questionáveis e reprováveis, mas é também disso que o livro se trata: de encontrar a capacidade de perdoarmos aos outros e a nós mesmos.

     Quero ainda destacar a intervenção de Hope, a irmã de Tess, que foi uma personagem que me seduziu pela sua singularidade e por padecer de uma síndrome que me intriga particularmente, e que foi muito bem abordada na sua complexidade. A autora trata ainda outros temas delicados como a morte, a importância da família e o cancro.

    Apreciei também o facto de Kate Eberlen ter brincado com o leitor, guardando mesmo para o final o encontro dos protagonistas. Apesar de ter gostado da forma leve e romântica como a trama terminou, esperava que, ao fim de tanta história, a autora se alongasse um pouco mais no desenlace. 

     "Sinto a Tua Falta" é, assim, uma divertida e amorosa história de encontros e desencontros, de coincidências, de perdas e sacrifícios, de escolhas mal feitas e de perdão e, acima de tudo, de amor e de recomeço. Os relatos de Gus e de Tess conquistam com a sua honestidade e simplicidade, pois são o retrato fiel de vidas e situações que poderiam perfeitamente ser reais. Este livro é também uma mensagem de esperança: apesar de sermos nós os donos do nosso destino, e de nos competir a nós e só a nós a construção do nosso futuro, por vezes a vida reserva-nos as surpresas para quando estamos verdadeiramente prontos para as aproveitar. Gostei muito!

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Harry Styles_Sign of the Times

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