sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Opinião sobre "Rainha Vermelha" (Rainha Vermelha #1) - Victoria Aveyard

Rainha Vermelha
(Rainha Vermelha #1)
(Artigo de Opinião)


Autora: Victoria Aveyard
Título Original: Red Queen (2015)
Tradução: Teresa Martins de Carvalho
ISBN: 978-989-637-848-6
Nº de páginas: 352
Editora: Saída de Emergência


Sinopse

     A sua morte está sempre ao virar da esquina, mas neste perigoso jogo, a única certeza é a traição num palácio cheio de intrigas. Será que o poder de Mare a salva... ou condena? 

     O mundo de Mare, uma rapariga de dezassete anos, divide-se pelo sangue: os plebeus de sangue vermelho e a elite de sangue prateado, dotados de capacidades sobrenaturais. Mare faz parte da plebe, os Vermelhos, sobrevivendo como ladra numa aldeia pobre, até que o destino a atraiçoa na própria corte Prateada. Perante o rei, os príncipes e nobres, Mare descobre que tem um poder impensável, somente acessível aos Prateados.
     Para não avivar os ânimos e desencadear revoltas, o rei força-a a desempenhar o papel de uma princesa Prateada perdida pelo destino, prometendo-a como noiva a um dos seus filhos. À medida que Mare vai mergulhando no mundo inacessível dos Prateados, arrisca tudo e usa a sua nova posição para auxiliar a Guarda Escarlate – uma rebelião dos Vermelhos – mesmo que o seu coração dite um rumo diferente.

Este exemplar foi-me gentilmente cedido pela Saída de Emergência em troca de uma opinião sincera


Opinião

       Começo por agradecer à Saída de Emergência pelo gentil envio do livro.

       Desde que saiu que "Rainha Vermelha" tem obtido críticas muito díspares: se uns amam, outros odeiam. Talvez por isso, fiquei com vontade de ler e perceber em qual dos pólos me encaixava, mas a verdade é que fiquei no meio: gostei da história, mas admito que nem tudo me satisfez. 

     Mare Barrow, uma jovem de 17 anos, vive num mundo com o qual não se identifica, pois a sociedade divide-se em duas classes bem distintas e imiscíveis, e que se evidenciam pela cor do sangue e pelos poderes que lhe são inerentes: os Vermelhos, a classe pobre e trabalhadora, forçada a servir os Prateados - o estrato superior, composto por pessoas poderosas que se fazem valer das suas capacidades e estatuto para explorar e oprimir os mais fracos. Descontente com o seu modo de vida, Mare é uma ladra exímia, que passa os seus dias a roubar bolsos alheios com o propósito de ajudar a família - atitude que não é particularmente bem recebida - e que vê aproximar-se o dia em que também ela, à semelhança do que já acontecera com os seus três irmãos mais velhos, será convocada para combater nas trincheiras.

      Tudo muda quando, numa noite de particular desespero, Mare se cruza com um estranho que acaba por lhe arranjar um trabalho no palácio de Verão da família real. Mas as reviravoltas na vida de Mare não acabam por aí! A trabalhar como serva no palácio, a jovem vê o seu destino mudar drasticamente quando, em frente às mais importantes Casas da corte Prateada, Mare descobre que há um poder em si que, enquanto Vermelha, não devia existir, e que lhe garantirá um lugar que nunca sonhou ocupar. E é nessas circunstâncias que a protagonista tem o primeiro contacto com a Guarda Escarlate: um grupo de Vermelhos cansados de viver sob as ordens dos Prateados, e que assumem como sua a luta pela igualdade.

       Num mundo novo e em que nem tudo é o que parece, Mare vê-se metida num rol de intrigas e mistérios, ao mesmo tempo que faz os possíveis por ajudar uma rebelião que se insurge em segredo. Quais são as verdadeiras intenções dos príncipes? Poderá Mare confiar naqueles que a rodeiam? Será o seu poder uma dádiva ou uma maldição?

     A história é narrada na primeira pessoa por Mare, uma rapariga que vive num mundo dividido em classes e que está disposta a sacrificar-se pelos que ama e pelos valores em que acredita. Agradou-me a sua intrepidez e a sua garra, mas nem sempre concordei com o seu modo de atuação. É de louvar a sua capacidade de enfrentar o perigo e a sua lealdade aos princípios que a regem, bem como a capacidade de não se deixar deslumbrar pelo novo meio de luxo e poder que a rodeia. Preferia que tivesse uma identidade mais marcante, mas gostei dela como protagonista.

    Gostei da forma como a autora desenvolveu os dois príncipes, Cal e Maven, e das circunstâncias que influenciam o modo de agir de cada um. Algo que me suscitou interesse foi constatar que ambos os príncipes, tendo uma relação tão cordial, tinham motivações tão opostas. Outra personagem digna de destaque é a rainha Elara, uma governante cruel e dissimulada que a autora explorou convenientemente, e que me despertou imenso a curiosidade.

     Este livro tem um triângulo amoroso pouco sólido, o que, sinceramente, não sei se me desagrada ou não. Na verdade, a componente amorosa não é a mais destacada neste livro, embora também esteja presente. Se, por um lado, gostei que a preocupação principal da autora não fosse o romance, por outro fiquei com a sensação de que houve uma falha neste campo, pois a protagonista acaba por gerar sentimentos - embora diferentes - pelos dois príncipes, mas é fácil perceber desde logo por qual dos dois bate mais forte o coração. Ou seja, apesar de a história apontar num certo sentido - e mesmo que, em determinado momento, surjam algumas dúvidas -, percebe-se à partida a direção que os acontecimentos vão tomar, o que torna tudo um pouco previsível. Preferia que a autora tivesse criado mais suspense e mais dúvida, para gerar realmente um efeito surpresa.

    Tendo "Rainha Vermelha" começado por ser uma ideia para um argumento, isso reflete-se na preocupação com as descrições e os detalhes, bem como na forma como são apresentados os pensamentos da protagonista, dando o conjunto uma experiência quase cinematográfica. A escrita da autora espelha isso mesmo e cativou-me, pois consegui visualizar perfeitamente os cenários e as ações das personagens, ainda que tenha apresenta algumas falhas no campo emocional. O início foi um pouco lento, pois há muita informação para apreender, mas, assim que assimilei as capacidades do Prateados, bem como as Casas da corte, e que percebi o modo como funcionava a sociedade, o ritmo da leitura aumentou imenso e comecei a sentir-me realmente viciada na história.

     Penso que a história peca por duas principais razões: em primeiro lugar, há momentos em que a previsibilidade acaba por tomar conta da história, embora, felizmente, esta ainda consiga surpreender num número razoável de aspetos; mas aquilo que me fez mais confusão foi mesmo o facto de, por diversas vezes durante a leitura, ter sentido que "Rainha Vermelha" era uma mescla de vários outros livros que já li. Tendo uma componente bastante distópica e uma sociedade estratificada, reconheço que, por vezes, se torna difícil inovar, sem seguir, inicialmente, a via quase padronizada das histórias do género. No entanto, esperava que a autora se tivesse distanciado mais dos enredos já conhecidos, pois é praticamente inevitável a comparação durante a leitura.

     As reviravoltas no final marcaram pela diferença e foram realmente um ponto de viragem no rumo da história. Espero que a autora as aproveite para se distanciar de alguns clichês, criando uma teia de acontecimentos mais original, uma vez que a história e as personagens têm ainda muito para desenvolver.

     "Rainha Vermelha" é uma história com personagens bem desenvolvidas, uma escrita envolvente e um ritmo acelerado, que consegue prender a atenção do leitor. Não é um livro perfeito e, na minha opinião, nem todos os aspetos foram desenvolvidos da melhor forma, mas ainda assim considero que esta foi uma boa leitura e gostei do livro. Espero que, nos próximos volumes, Victoria Aveyard opte por se afastar do curso da intriga e do estilo de outros livros do género, pois considero que há ainda muito potencial a explorar na história de Mare. 

 Música que aconselho para acompanhar a leitura: Look What You Made Me Do_Taylor Swift

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